♫ Cantores de Intervenção ♫
Introdução
“Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.”
Sophia de Mello Breyner
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.”
Sophia de Mello Breyner
No âmbito da disciplina de História e Geografia de Portugal, foi-nos proposto um trabalho sobre o tema geral “25 de Abril de 1974”, que estudamos este ano.
Escolhemos o sub - tema “Cantores de intervenção” dada a sua importância no desenrolar da revolução dos cravos.
Seleccionamos apenas alguns cantores e apresentamos as suas biografias. Terminamos, em anexo, com as letras das mais importantes canções da revolução: Grândola Vila Morena e Depois do adeus, canções essas interpretadas, respectivamente, por Zeca Afonso e Paulo de Carvalho.
O despontar da revolução
22.00h do dia 24 de Abril de 1974:
Otelo Saraiva de Carvalho chega ao quartel da Pontinha, onde irá funcionar o posto de comando do MFA.
22:55h do dia 24 de Abril de 1974:
A Emissores Associados de Lisboa faz a transmissão de “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, dando ordem de partida para a saída dos quartéis.
00:20h do dia 25 de Abril de 1974:
A Rádio Renascença transmite a canção "Grândola, Vila Morena", de José Afonso, segundo sinal do MFA, para que os militares dessem início às operações previstas.
03:00h do dia 25 de Abril de 1974:
Início do cumprimento das missões militares, de acordo com o "Plano Geral das Operações". São ocupados os estúdios da RTP, da Emissora Nacional e do Rádio Clube Português.
04:20h do dia 25 de Abril de 1974:
O Rádio Clube Português transmite o primeiro comunicado do MFA.
11:45h do dia 25 de Abril de 1974:
O MFA informa o país, através do RCP, que domina a situação de Norte a Sul.
12:30h do dia 25 de Abril de 1974:
As forças de Salgueiro Maia cercam o Largo do Carmo e recebem ordens do Posto de Comando para abrir fogo sobre o Quartel da GNR, para obter a rendição de Marcello Caetano.
17:00h do dia 25 de Abril de 1974:
Salgueiro Maia entra no Quartel do Carmo e exige a rendição a Marcello Caetano, que lhe responde que só se renderia a um Oficial-General para que o Poder não caísse na rua. O Posto de Comando mandata o General Spínola para ir receber a rendição de Marcelo Caetano ao Quartel do Carmo.
23:30h do dia 25 de Abril de 1974:
São promulgadas a destituição dos dirigentes fascistas (através da Lei 1/74) e a extinção da PIDE/DGS, da Legião Portuguesa e da Mocidade Portuguesa.
Salgueiro Maia e os militares de Abril
Zeca Afonso
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Aveiro, 2 de Agosto de 1929 — Setúbal, 23 de Fevereiro de 1987), também conhecido por Zeca Afonso, foi um cantor e compositor português.
Foi uma figura central do movimento de renovação da música portuguesa que se desenvolveu na década de 1960 do século XX e se prolongou na década de 70, sendo dele originárias as famosas canções de intervenção, de conteúdo de esquerda, contra o Regime.
Zeca Afonso ficou indelevelmente associado ao derrube do Estado Novo, regime de ditadura Salazarista vigente em Portugal entre 1933 e 1974, uma vez que uma das suas composições, "Grândola Vila Morena", foi utilizada como senha pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), comandados pelos Capitães de Abril, que instaurou a democracia, em 25 de Abril de 1974.
Azulejo em Coimbra:
“Nesta casa viveu o trovador da liberdade José Afonso, O Zeca.”
“Nesta casa viveu o trovador da liberdade José Afonso, O Zeca.”
Muitas das suas músicas continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam actualmente mais de 300 versões de canções suas gravadas por mais de uma centena de intérpretes, o que faz de Zeca Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial. O seu trabalho é reconhecido e apreciado pelo país inteiro e Zeca Afonso, com a sua incidência política que as suas canções ganharam, indiscutivelmente representa uma parte muito importante da cultura poética portuguesa.
José Mário Branco
José Mário Branco (Porto, 25 de Maio de 1942) é um músico e compositor português. Filho de professores primários, cresceu no Porto e iniciou o curso de História, na Universidade de Coimbra, não o terminando.
Expoente da música de intervenção portuguesa, iniciou a sua carreira durante o Estado Novo, tendo sido perseguido pela PIDE até se exilar em França, em 1963. Com ele trabalharam José Afonso, Sérgio Godinho, Luís Represas, Fausto e Camané, entre outros, com os quais participou em concertos ou em álbuns editados como cantor e/ou como responsável pelos arranjos musicais. Igualmente compôs e cantou para o teatro, o cinema e a televisão. Em 1974 regressou a Portugal e fundou o Grupo de Acção Cultural, com o qual gravou dois álbuns.
Entre música de intervenção, fado e outras, são obras suas famosas os discos Ser Solidário, Margem de Certa Maneira, A noite e o emblemático FMI, obra síntese do movimento revolucionário português com seus sonhos e desencantos. Esta última foi pelo próprio proibida de passar em qualquer rádio, TV ou outro tipo de exibição pública. Não obstante este facto, FMI será, provavelmente, a sua obra mais conhecida.
O seu álbum mais recente, lançado em 2004, intitula-se Resistir é Vencer em homenagem ao povo timorense que resistiu durante décadas à ocupação pelas forças da Indonésia logo após o 25 de Abril. O ideário socialista está expresso em muitas das suas letras.
Adriano Correia de Oliveira
Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira foi um importante músico de intervenção português. Intérprete do Fado de Coimbra e elemento da geração de cantores da resistência ao Estado Novo, conhecida como música de intervenção, cresceu no seio de uma família tradicionalista católica.
Concluído o ensino liceal no Porto foi para Coimbra em 1959, estudando Direito. Foi repúblico na Real República Ras-Teparta, solista no Orfeon Académico de Coimbra, fez parte do Grupo Universitário de Danças e Cantares e do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra e tocou guitarra no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica de Coimbra. Pouco depois editava o primeiro EP, acompanhado por António Portugal e Rui Pato lançando, em 1963, o seu primeiro disco de vinil, Fados de Coimbra, que continha Trova do vento que passa, balada fundamental da sua carreira, com poema de Manuel Alegre, transformado numa espécie de hino do movimento estudantil de contestação ao regime.
Militante do Partido Comunista Português, a partir da década de 1960, envolveu-se nas greves académicas de 1962 e concorreu à Direcção da Associação Académica de Coimbra, numa lista apoiada pelo Movimento de Unidade Democrática (MUD). Em 1967 gravou o vinil Adriano Correia de Oliveira, que entre outras canções tinha Canção com lágrimas.
No ano seguinte sai o disco de vinil Cantaremos e em 1971 Gente d'Aqui e de Agora, que marca o primeiro arranjo, como maestro, de José Calvário, que tinha vinte anos. José Niza foi o principal compositor neste disco que precedeu um silêncio de quatro anos, recusando-se Adriano a enviar os textos à Censura.
Em 1975 lançou Que Nunca Mais, com direcção musical de Fausto e textos de Manuel da Fonseca. Este vinil levou a revista inglesa Music Week a elegê-lo como Artista do Ano.
Manuel Alegre
Embora não seja um cantor, sempre esteve associado a cantores de intervenção, escrevendo poemas para as suas canções
Chegado a Paris em Julho de 1964, participa na Terceira Conferência e é eleito para a Direcção da Frente Patriótica de Libertação Nacional, presidida por Humberto Delgado. Isto dar-lhe-á a possibilidade de depor perante as Nações Unidas, como representante dessa organização, sobre a sua experiência em Angola, e contactar com os líderes dos movimentos africanos de libertação, como Agostinho Neto, Eduardo Mondlane, Samora Machel, Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade e Aquino de Bragança. Em 1964 parte para o exílio, em Argel, onde é locutor da emissora de rádio A Voz da Liberdade. Nessa emissora difunde conteúdos destinados a lutar contra o Salazarismo, declarando apoio aos movimentos de guerrilha do Ultramar, que lutavam contra as Forças Armadas de Portugal, convertendo num símbolo de resistência e liberdade. Entretanto os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), são apreendidos pela censura, mas cópias manuscritas ou dactilografadas circulam de mão em mão, clandestinamente. Poemas seus, cantados, entre outros, por Amália Rodrigues, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luis Cília tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade.
Conclusão
A realização deste trabalho permitiu-nos aprofundar os conhecimentos sobre o 25 de Abril de 1974 e a forma como se revelou fundamental para a história de Portugal e da sua democracia.
Graças à coragem e persistência de homens como os retratados neste trabalho, a nossa geração tem liberdade de escolha e direito a exprimir opiniões.
Este período da história é fascinante porque se trata de uma revolução que decorreu praticamente sem derramamento de sangue e cujos principais símbolos são um cravo vermelho e duas canções!
Dada a importância deste período da história e o facto de ser relativamente recente, não tivemos dificuldades em obter informações. Para além das fontes tradicionais (ver bibliografia), também foi importante ouvir os relatos pessoais dos nossos familiares que viveram em plena época 25 de Abril.
Bibliografia/ Fontes de informação
Manual de HGP – parte II (editora: Texto Editores, autores: Ana Rodrigues Oliveira, Arinda Rodrigues e Francisco Cantanhede)
Internet (wikipédia, pim-pão digital, associação 25 de Abril, Google – imagens)
Anexos
Zeca Afonso
Grândola Vila Morena
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Paulo de Carvalho
E Depois do Adeus
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder.
Tu viste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci.
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor
Que aprendi.
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.
MT BOM
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